Sobre o livro:
Parkour, título do novo livro de Laura Assis, é uma palavra que tem origem no francês e significa “percurso”. Isso já diz muito dos poemas que encontraremos nessa coletânea da autora que, após Depois de rasgar os mapas e diversas publicações em revistas e sites no Brasil e no exterior, apresenta agora aos seus leitores uma obra que perpassa sua trajetória poética, ao mesmo tempo que aponta para lugares inéditos e urgentes.
Parkour é também o nome de uma modalidade esportiva que se desenvolve com o objetivo de ultrapassar obstáculos a partir do uso do próprio corpo e de suas capacidades. Tendo essa imagem como mote, nos poemas de Parkour observamos a tensão de um corpo que não se coloca como simples agente de saltos, mas como território — lugar de desejo e lugar de violências — onde se estabelecem diversas relações. Corpo esse que não é somente o da menina sozinha na floresta escura, ou o da que é constantemente vigiada nos corredores de supermercados, e nem apenas o daquela que, como outras meninas, se esconde calada atrás de livros. Tomando experiências que soam muito particulares e que se revelam intimamente universais, conseguimos ler nesses poemas a história de diversas mulheres que compartilham, além do mergulho no abismo, vivências de classes, de raças e de orientações sexuais. É assim que esse corpo também se apresenta a nós como uma comunidade.
Na impossibilidade explícita de escrever poemas de amor, Laura Assis retoma sua constante obsessão pela linguagem e suas potências sensuais e políticas. A língua como corpo se mostra no livro atravessada pelas suas metáforas de desejo e de músculo, enquanto se proclama nem sempre legível. Tal ilegibilidade é colocada sobretudo para afirmar essa comunidade que precisa estar viva, e se constrói em uma opacidade disfarçada, oferecendo um segredo como quem convida a um pacto silencioso. Nesse pacto, por exemplo, sabemos a história da bisavó, “gente como nós”, cansada de limpar a sujeira dos homens brancos, cansaço que se estende até a protagonista e seu canto para se manter de pé, apesar do corpo que puxa para baixo. Como sabemos também da história de uma baleia, mamífero gigante que carrega o filhote morto durante cinco dias dentro do mar, ao mesmo tempo em que se joga em uma dança de mergulho, de onde depreendem-se os versos-síntese: “afundar como se não houvesse / escolha / emergir e escolher que há”.
Sobre a autora:
Laura Assis (Juiz de Fora, 1985) é poeta, tradutora, editora e professora, com doutorado em Literatura pela PUC-Rio. É autora do livro Depois de rasgar os mapas (2014) e de três plaquetes de poesia. Integra o coletivo editorial Capiranhas do Parahybuna e dá aulas de Língua Portuguesa e Literatura no CAp. João XXIII/UFJF.